HISTÓRICOS DOS BAIRROS DE ARAPIRACA


 

ALTO DO CRUZEIRO – Por Zezito Guedes (Historiador, folclorista e artista plástico)

 

Situado na mais elevada parte de Arapiraca/AL, esse bairro- residência da saudade, teve o privilégio de ter relações diretas com o fundador Manoel André, que começou o povoamento em  1848, á margem direta do Riacho Seco, que o separa do centro da Cidade.

Tudo indica que foi pela rua da Aurora e rua São João, que Manoel André fez a rota Arapiraca – Serra dos Ferreira, onde se fixaram alguns parentes seus. Por conseguinte, as primeiras residências do Alto do Cruzeiro foram construídas pelos seus próprios familiares, as famílias: Nunes, Ferreira, Albuquerque, Pereira, Magalhães, entre outras.

Tempos depois, instalaram-se as famílas: Vital, Barbosa, Lopes, Bernardino, Proteciano e
também Nezinho Protázio, João Procópio, Sebastião Ribeiro, Valdomiro Barbosa, Jovelino Galdino, José Vieira e outros que foram os mais antigos moradores do bairro.

No Alto do Cruzeiro, Marcelino Magalhães festejava o São João, soltando estrondosas
ronqueiras que muita gente ainda hoje recorda. Realiza-se, há mais de meio século, a
tradicional festa de Ano Novo, com pastoris e outros folguedos que reunia toda Arapiraca. No
entanto, no final dos anos 1970, tudo mudou e até o calendário de festas religiosas foi alterado; a festa de Ano Novo passou a ser realizada em outros pontos da cidade.

Acabou-se a festa de São Sebastião, que começou no início do século. A festa de São João
acabou-se no centro e saiu para as ruas da periferia. A Semana Santa resume-se, atualmente,
á Sexta-Feira da Paixão e, não existe mais o espírito natalino de outras épocas. Enfim, com o desenvolvimento, tudo se modificou em Arapiraca.

Todavia, o Alto do Cruzeiro ainda é um dos bairros mais conservadores, onde a comunidade
ainda costuma conservar a noite nas calçadas, principalmente, o povo da praça Santa Cruz e da antiga rua da Aurora, onde as meninas são muito casadeiras.

Os mais antigos do Alto do Cruzeiro têm um amor próprio muito grande e defendem o bairro com
unhas e dentes. O mais ardoroso era o saudosista radical Antônio Pereira; na sua opinião, o Alto do Cruzeiro deveria ser uma cidade independente.

[ Fonte: livro “Arapiraca Através do tempo”, 1999 ]

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CACIMBAS – Por Zezito Guedes (Historiador, folclorista e artista plástico)

 
O surgimento do bairro Cacimbas é tão antigo que quase coincide com a própria fundação de
Arapiraca/AL. Segundo informações de remanescentes do fundador, com a fixação de Manoel
André, dez anos depois,em 1858, vieram também de Cacimbinhas/AL, José Veríssimo dos Santos,
que povoou a localidade denominada Cacimbas e, Manoel Cupertino de Albuquerque, que ocupou a
parte de terras chamada Baixão. Apegadas ao trabalho árduo da agricultura, essas famílias –
Manoel André, José Veríssimo e Manoel Cupertino de Albuquerque, logo prosperaram e se
multiplicaram, entrelaçando-se e formando a árvore genealógica que constitui a família arapiraquense.

Situada na parte baixa da Cidade, Cacimbas, apesar das transformações impostas pelo
desenvolvimento, ainda conserva um pouco de cultura, de sua tradição, juntamente com o Alto do Cruzeiro, que ainda são considerados os bairros mais tradicionais de Arapiraca.

Do patriarca José Veríssimo, nasceram: Antônio Leite da Silva, Manoel Antônio Pereira
Magalhães, Esperidão Rodrigues da Silva, Rozendo Veríssimo, Umbelina Veríssimo, Maria Vieira
e, outros que cresceram e foram ocupando toda a área de terras de Cacimbas e, adjacências.

Com a morte de Manoel André, em 1890, seus sobrinhos Antônio Leite, Manoel Antônio Pereira de Magalhães e Esperidão Rodrigues assumiram a liderança da então vila de Arapiraca.

Manoel Antônio Pereira de Magalhães constituiu numerosa prole: João, Né, José, Clara, Josefa
e Francisco de Paula Magalhães – o homem que iniciou a cultura de fumo em Arapiraca, no
final do século XIX. Chico Magalhães, era mais conhecido, foi o pioneiro numa época em que
ninguém acreditava em nada, a não ser na cultura da mandioca. Atualmente, quase esquecido por seus próprios familiares – exatamente os que mais deveriam cultuar a sua memória.

Atualmente, muita gente de fora reside no tradicional bairro de Cacimbas, que, por sua vez,
já possui outros distritos. Mesmo assim, os mais antigos ainda constituem a base do populoso bairro, onde nasceram a cultura do fumo e o futebol arapiraquense.

[ Fonte: livro “Arapiraca Através do tempo”, 1999 ]

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CANAFÍSTULA – Por Zezito Guedes (Historiador, folclorista e artista plástico)

 
Um povoado antigo e que o progresso transformou num populoso bairro foi Canafístula. Fundado
por Domingos Nunes Barbosa, um dos irmãos de José Veríssimo. Apesar das transformações
impostas nos últimos anos, é ainda constituido de uma só família: Barbosa, Lopes, Nunes e
Vital que, fugindo aos ditames do Cristianismo e da própria Medicina, permanece com a mesma
consanguinidade do passado e, por conseguinte, todos os habitantes desse povoado são
parentes próximos, haja vista os casamentos realizdas dentro da própria família, salvo
algumas exceções motivadas pela presença de algumas pessoas estranhas que se estabeleceram nos últimos anos.

Tendo em vista essa íntima aproximação de seus habitantes, a maneira de ser desse povo, a
própria cultura dessa comunidade é bem característica; o comportamento dessa gente é
distinto, ou seja, difere um pouco da comunidade arapiraquense. As pessoas alvas, de
temperamento pacífico, religiosas, muito tímidas, arredias e, por vezes fechadas. É uma comunidade que conservou a sua tradição através dos anos.

Atualmente, apegados mais á cultura do fumo, no passado foram grandes produtores de cereais,
farinha e, também de tijolos. Trabalhadores infastigáveis, no inverno cuidavam das olarias.
Foi Canafístula um dos maiores celeiros do chamado tijolo comum; era lá que existia o barro
Massapê em grande quantidade e os tijolos de Canafístula muito contribuiram para o progresso
de Arapiraca. Nos anos 1940 e 50, os carros de boi e as carroças de burro trabalharam intensamente conduzindo tijolos para edificar a Cidade.

Afora essa capacidade de trabalho, o povo de Canafístula dedica-se com afinco á religião
católica, praticando, rezando e fazendo novenas com frequência, chegando até a construir uma Igreja com recursos próprios dos fieis da Paróquia.

E, a respeito, o povo conta muitas estórias irreverentes. Uma delas diz que o povo de
Canafístula, de tanto rezar já é beato. Outros inventam que, uma vez, uma equipe de futebol
foi jogar no Estádio Coaracy da Mata Fonseca e todo os jogadores eram canhotos. Mas, tudo não passa de irreverência do povo.

A verdade é que o povo de Canafístula possui uma grande virtude: é um povo pacato e ordeiro,
atributos que herdaram de seus antepassados e, que perduram até hoje. Além de Domingos,
povoaram Canafístula no passado as seguintes pessoas: Pedro Lopes, Terto Barbosa, Pedro Honorato, “Nezinho”, Pedro Gama e outros familiares destes.

[ Fonte: livro “Arapiraca Através do tempo”, 1999 ]

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CAPIATÃ – Por Zezito Guedes (Historiador, folclorista e artista plástico)

 
Na antiga estrada que saia de Arapiraca/AL para Lagoa do Rancho, ficava o sítio Capiatã. Um
nome que vem de épocas remotas, mas tudo indica que tenha origem índigena. Era em épocas
passadas, uma vasta propriedade com uma área de muitas fruteiras: mangueira, cajueiros, goiabeiras, laranjeiras, etc.

Era onde o famoso fogueteiro das festas e das noites de São João preparava pólvora e outros
explosivos e, na fase chuvosa, cultivava cereais e mandioca, com sua numerosa família. No
passado, era recanto bonito e aprazível, de terras férteis e afastado do centro urbano. Foi
onde “Os Nunes” cresceram, floresceram e se multiplicaram, passando mais adiante da colheita de cereais e mandioca para a cultura do fumo.

Tempos depois, o desenvolvimento foi chegando e, em 1940, passou a linha de ferro cortando o
terreno em toda a sua extensão. Na frente a Souza Cruz se instalou com grandes armazéns; no
outro lado, a administração municipal construiu o Grupo Escolar Aurino Maciel, isso nos anos 1950.

Com os sucessivos loteamentos, a Cidade foi se estendendo até ocupar completamente o sítio
Capiatã, dando origem a várias artérias como as ruas Pedro Nunes de Albuquerque, Possidônio
Nunes, Guanabara, Manoel Nunes Neto e, o Colégio São Francisco, a chácara Santa Mônica e outras ruas que se limitam com a linha férrea.

Atualmente, do antigo Sítio Capiatã que promovido a bairro, resta somente algumas
residências dos herdeiros de Pedro Nunes, pois o progresso vertiginoso já incorporou a antiga Capiatã ao centro urbano de Arapiraca.

Assim, vítima do próprio desenvolvimento, até a palavra Capiatã tende a desaparecer no tempo
e no espaço, ratificando o adágio popular: “O tempo tudo apaga”. Todavia, não obstante o seu desaparecimento, o Capiatã constitui uma das páginas de Arapiraca através do tempo.

[ Fonte: livro “Arapiraca Através do tempo”, 1999 ]

[ Editado por Pedro Jorge ]

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