Por Roberto Gonçalves ( 29 de Junho de 2011 ) Faleceu na manhã desta quarta-feira, 29, em Arapiraca/AL o poeta popular, cordelista e violeiro João Gomes de
Oliveira, conhecido popularmente como João Caboclo-Linho de Alagoas, aos 81 anos de idade. O sepultamento ocorre nesta quinta-feira, 30, no Cemitério de Santo Antônio, no bairro Batingas às 10h. O corpo está sendo velado na residência onde morava na rua Santa Terezinha no centro de Arapiraca. Radicado em Arapiraca, Caboclo-Linho nasceu em Pão de Açúcar/AL em 23 de março de 1930. Sua infância foi nas usinas São José e Ouricuri, anos depois passou a residir no povoado de Canafístula do Cipriano na zona rural de Girau do Ponciano/AL. Cordelista, violeiro-repentista, vendedor de livros de cordel nas ruas de Arapiraca ingressou na ACALA (Academia Arapiraquense de Letras e Artes), em 1987, sendo um dos seus fundadores. Publicou poemas na Coletânea “Canteiros de Poesias”. Por muitos anos residiu em Juazeiro do Norte/CE fazendo ponto no Mercado Público da Terra do Padre Cícero Romão Batista de quem era um grande devoto. Publicou em Arapiraca o livro “Flor de Poesia” e sua publicação mais recente foi “Padre Cícero em Poesias” pela Center Graf em 2006.João Caboclo – Linho deixa um grande acervo de poesia popular inédita e nunca teve oportunidade para publicação de sua obra: “Os Astros da Poesia”, “Presente de Poesia” que constituem uma autêntica manifestação da cultura popular nordestina. O presidente da ACALA, Cláudio Olímpio lamentou a morte de João Caboclo–Linho e assegurou que a cultura popular em Alagoas e Arapiraca fica mais pobre. [ Fonte: Blog do Roberto Gonçalves / bobgonsalves.blogspot.com ] ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ CORDÉIS – Poeta João Caboclo Linho ( Livro – “Flor de Poesia” ) NÃO SEI A QUAL DOU RAZÃO – Autor: Poeta João Caboclo Linho A mulher me desprezou / a outra abraçou a mim
a mulher me achou ruim / a outra me ajudou
a mulher me ausentou / a outra me deu a mão
a mulher tirou-me o pão a outra me deu o queijo / se é do mudo que vejo
não sei a qual dou razão. Sei que uma e outra quer / razão que ninguém acerta
não sei qual a mais certa / se é a outra ou a mulher
a mulher quebra a colher / a outra rasga o colchão
a mulher faz confusão / a outra faz a desordem
a mulher rebenta ordem. A outra tem uma falta / de ninguém confiar nela
é que a mulher se exalta / o homem se salta
no meio da confusão / e diz o bom coração
não abandona o que é seu / por isso é que eu digo:
não sei qual dou razão. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ JORNAL SERTANEJO – Autor: Poeta João Caboclo Linho Literatura de colportage na França é título legal
sextilhas indica seis linhas e décimas e dez, é igual
e os folhetos rimados herdados de Portugal. Cientifiquei sertanejos e estudantes também
nos títulos natos e estranhos que a poesia contém
agora exalta o valor que o livro estória tem. A utilidade do verso tem elevado demais
deixando o sertão ciente do que há nas capitais
pelo sertão do Brasil os versos são os jornais. A literatura de cordel / deu muita luz ao sertão
declarando os personagens cada um em posição
no destaque que merece santo, culto ou valentão. O cantador vai cantar na casa do camponês
ele pede estória bíblica no velho ou no novo cortes
baseado no folheto que o outro poeta fez. Quem nunca conheceu o Bíblia nem leu estória sagrada
conheceu a vida de Cristo e da Virgem Imaculada
tudo através de folhetos da poesia rimada.Pessoas que não tiveram feliz oportunidade
de não aprender a ler tiveram a felicidade
de ouvir, ler versos e decorar cantar e arranjar amizade.
Quem nunca viu a pessoa do Padre Cícero Romão
o adora como santo porque leu com gratidão
sua vida num folheto e lhe ama de coração.
O cordel tem declarado tudo para o nordestino
a vida de Lampião quem foi Antônio Silva
Curisco Cunha, um brilhante / altos humanos ou divino.
A poesia tem sido o jornal muito evidente
que o sertanejo ler o passado e o presente
de profecias futuras cordel de declaramente.
O poeta, o canto são os jornais do sertão
o poeta manda a escrita dando toda a informação
e o cantador em pessoa dá toda declaração.
Cantador é o repórter que a poesia faz
leva notícias ao sertão às cidades e às capitais
e se vem para as Cidades do Sertão notícias traz.
O poeta, o cantador o verso e a poesia
já vem mais de cem anos ajudando e dando alegria
e o jornal é como o pão só presta no mesmo dia.
Já homens formados sentindo grande desejo
de saber fazer um verso dizendo a muito pelejo
que é bem empregado o verso ser jornal sertanejo.
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PORQUE O MUNDO VAI MAL – Autor: Poeta João Caboclo Linho
Via tudo terminar só / do jeito que a coisa vai
o avô enganando a avó / o filho enganando o pai
armou-se toda a armadilha / a mãe iludindo o filho
a neta assina e se sai.
O filho furta o pai / o pai não educa o filho
o Espírito Santo sai / porque apagou-se o brilho
no furto da consciência / a luz da divina essência
não brilha mais nesse trilho.
A mulher foge do trilho / mentindo para o marido
dizendo fui com meu filho / na loja comprar vestido
furtou ela e a criança / estava numa festança
na casa de um conhecido.
Sai o homem aborrecido / dizendo que vai para a feira
mentira, foi escondido / ver uma tal companheira
assim vai tudo sem paz / mulheres, filhos e pais
vai tudo na bagaceira.
Aquele artista refaz / naquilo que o outro fez
o comerciante incapaz / toma do outro o frequês
o comprador de fiado / deixa o que vende enganado
não paga no fim do mês.
A moça tem mais de três / namorados hoje em dia
o rapaz tem mais de seis / só para fazer folia
casamento não é moda / o amor saiu da roda
só reina demagogia.
A mentira fez carreira / vai na frente da verdade
hoje o engano é primeira / de originalidade
hoje o homem é submisso / a mulher de compromisso
findou-se a autoridade.
Findou-se a honestidade / no grupo familiar
aquele felicidade / fugiu de dentro do lar
o homem não tem mais força / a mãe e a filha moça
tomaram dele o lugar.
* Cordéis extraídos do livro “Flor de Poesia” – Poeta João Caboclo Linho.
[ Fonte: Zóio TV / http://www.zoiotv.com.br ]
[ Editado por Pedro Jorge / E-mail: pjorge-65@hotmail.com ]
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Tradução livre:
Caro escritor, isso definitivamente é uma informação inteligente.