Destaladeiras de Fumo de Arapiraca & Jababoys

 
 

Destaladeiras de Fumo da Canafístula & Jababoys

Grupo de Mulheres Resgata Cantos dos Salões de Fumo de Arapiraca
Por G1/AL (16/09/2014)

O cultivo do fumo para a produção de tabaco foi a principal atividade econômica por mais de cinco décadas em Arapiraca. Além das plantações e dos varais onde a produção era colocada para secar, também chamavam a atenção os salões onde o fumo era destalado (retirada do talo), permitindo que as folhas pudessem ser enroladas.

Neste processo, mulheres trabalhavam horas a fio nos salões ou armazéns na destalagem e seleção das folhas para formar o rolo. Em meio ao trabalho árduo de bater e enrolar as folhas, elas criaram cantos e versos que ficaram conhecidos como “cantigas de salão de fumo”. A atividade, que surgiu de forma natural, se tornou um atrativo na época da colheita e acabou deixando o trabalho mais alegre e menos cansativo.

Com o passar dos anos e o declínio da cultura do fumo na região, a atividade diminuiu. Atualmente, nos poucos salões que ainda resistem na região, já não se ouve mais os cantos que embalavam mulheres, homens e crianças. Para resgatar essa atividade que se tornou tradição no período da colheita, um grupo de mulheres revive as cantigas entoadas durante a destalagem nos salões.

O grupo, criado há oito anos, conta com mulheres que trabalhavam na colheita e destalação do fumo. Elas se apresentam em Arapiraca/AL, em outras cidades e até estados. A maioria deixou o plantio do fumo há algum tempo e estava sem nenhuma atividade até que decidiu participar da ação de resgate cultural, que começou na associação da Canafístula, bairro tradicional em Arapiraca.

Uma das integrantes, Maria José dos Santos, 62, explica que os cantos surgiram de improviso durante o trabalho. “Era uma forma de espantar o sono. Trabalhávamos durante o dia na colheita e à noite o cansaço batia. Aí começaram a surgir os versos. Uma falava um, a outra completava e a canção vinha de forma natural”, diz.

A destaladeira Severina da Silva conta que no auge do cultivo na região, quando o trabalho era pesado, a única diversão que ela e outras mulheres tinham era cantar nos salões. “Juntava gente para nos ver cantando. Era criança, adulto, velho, de todas as idades. Dava até para paquerar”, brinca.

Severina é a única integrante do grupo que ainda trabalha na destalação do fumo. “Continuo nos salões de fumo, mas o canto agora só com o grupo mesmo. Com o tempo, as pessoas foram deixando de fazer versos. Por isso acho o grupo importante para que todos lembrem como era animado o trabalho no passado”, diz.

As mulheres contam que os temas das músicas são variados. “Fazemos brincadeiras, declarações de amor e até brigamos, mas é tudo para descontrair. Uma vai falando uma coisa e a outra completa com resposta. É até divertido criar os versos”, fala Maria José.

A coordenadora do grupo, Mariângela Lopes Barbosa, explica que, inicialmente, a proposta era de que as mulheres participassem de um grupo de pastoril da comunidade. “Quando as mulheres se reuniram e começaram a lembrar os cantos e versos da destalação, percebemos que essa cultura deveria ser retomada. Que isso era uma coisa da região e não poderia ser esquecido”, fala.

Mariângela explicou que as mulheres começaram a reunir as anotações e lembrar dos versos que cantavam nos salões. O resultado foi uma reunião de mais de 50 cânticos, que começaram a ser ensaiados pelo grupo. “A maioria já conhecia os cantos. Uma começava e logo as outras iam lembrando. O nosso trabalho foi de escolher o que seria ensaiado e quais músicas seriam melhores para as apresentações”, diz.

Depois dos ensaios e organização dos figurinos, as mulheres começaram a se apresentar em festas no bairro. Mas o sucesso foi tamanho que elas receberam convites e saíram para se apresentar em outros locais da cidade.

Com a divulgação, o grupo foi convidado para outras cidades de Alagoas e até para outros estados. Na ocasião, elas também chegaram a gravar um CD com as canções mais populares. “É uma alegria ver a cultura da região ser levada para outros lugares. Onde as mulheres chegam, são bastante elogiadas e isso está sendo muito importante para a autoestima delas e até para a saúde”, observa a a coordenadora.

Melhora da Qualidade de Vida
Para todas as destaladeiras, o grupo foi uma forma de sair da rotina e dar mais motivação para viver. “Vivia em médicos e nunca sabia qual era o meu problema. O que falavam era em solidão e depressão. Depois que eu vim para o grupo, tudo mudou. Nunca mais tive nada. É só alegria agora”, fala a integrante Antônia Barbosa da Silva, 72.

Assim como Antônia, a destaladeira Maria Solange diz que sua vida mudou muito com o início do grupo. “Vivia triste e agora isso não faz parte da minha vida. Tudo é divertimento. Além disso, tem a amizade que formamos. Somos uma família, uma ajuda a outra e isso não tem como agradecer”, afirma.

E não são apenas as destaladeiras que comemoram as apresentações. Com elas, se apresenta um grupo de forró pé de serra que surgiu no período auge da colheita. O “Jababoys” que é composto por três pessoas que acompanha as mulheres durante os cantos.

O sanfoneiro Domingos da Fonseca diz que lembra o período de auge da colheita e que sempre encerrava as safras com uma grande festa. “Participar das apresentações, é reviver as comemorações que viravam o dia após as colheitas. Eu acompanhei os salões de fumo e ouvia as destaladeiras cantando. Esse resgate que é feito pelo grupo é uma renovação para nós e toda a região”, comemora.

[ Fonte (link):  http://soumaisarapiraca.com.br/noticia/392/grupo-de-mulheres-resgata-cantos-dos-saloes-de-fumo-de-arapiraca ]

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Frase:
“Ao lançar o CD Cantos de Trabalho, o SELO SESC corrobora seu papel de apoiar o registro e a difusão da obra de artistas que possuem a faculdade de provocar rupturas e suscitar o inesperado e, ao mesmo tempo, atender ao compromisso da instituição de apoiar ações voltadas para a educação e para a diversidade da cultura brasileira.” 
Danilo Santos de Miranda ( diretor regional do SESC/SP ).
 
JANGADA BRASIL – Destaladeiras de Fumo de ArapiracaCom a expansão da cultura de fumo em Arapiraca/AL, a partir da década de 1920, cresceu, também a necessidade de mão de obra e assim convergiram para Arapiraca trabalhadores de várias regiões do Nordeste, que foram trazendo em suas bagagens, costumes,  folguedos, crendices, seitas, cantos, os quais foram se adaptando à primitiva cultura já existente e assim se concentrou um sem número de cantigas que há mais de meio século são cantadas na época da colheita de fumo pelas mulheres que retiram os talos de folhas de fumo: as conhecidas destaladeiras de fumo.Estando o Município de Arapiraca, situado no Agreste alagoano, entre a Zona da Mata e a do Sertão, essas regiões muito contribuíram e exerceram grande influência na formação dessas cantigas utilizadas nas colheitas. Na Zona da Mata temos o Coco, a Cantiga de Roda, o Reisado. No sertão, o Aboio, a Toada, a Cantoria de Viola, a Cantiga de Eito. Todas essas manifestações folclóricas influíram decisivamente na formação das cantigas de salão de fumo que as mulheres entoam, sentadas no chão, afastando o sono enquanto destalam folhas e que, com o passar do tempo,  foram adquirindo características próprias, constituindo uma manifestação do povo da região fumageira…

… Entoando essas cantigas, muitas cantadeiras marcaram época nos salões onde cantavam, tirando os versos: Maria de Lima Araújo, Rosa Leite, Detinha, no Bairro Cacimbas. Maria Julieta, Maria Neuza, Amália, Luzia, Rosa Macário, no Bairro Baixa Grande; Joana, Regina, Nina Vital, no Bairro Alto do Cruzeiro; Júlia, Rosália, Maria de Lourdes, Angelita, no Sítio Mangabeira; Alice Alves, no Sítio Lagoa de Pedra; Lourdes Zacarias, Zeza, na Fazenda Pernambucana. Essas cantigas em forma de trovas, (rimas ABCD), sem acompanhamentos musicais, são entoadas em várias vozes, formando um só coro harmonioso no estribilho, com uma só voz no improviso dos versos geralmente tirado pelas líderes do salão. Se o refrão da cantiga agrada em cheio, elas cantam até durante horas; mas, normalmente, as destaladeiras mudam a cantiga para não esfriar o entusiasmo:

Essa cantiga já tá veia
Tá boa de remendá
Com taquinho de pano novo
Uma agúia e um dedá.

E assim elas estimulam cada vez mais, mantém o salão em permanente alegria, evitando o tédio ou o sono, usando sátiras, ironias, chistes, gracejos espirituosos que são mais das vezes interrompidos por uma algazarra geral:

Eu agora vou casá
Se eu casá eu vivo bem
Se eu ficá no caritó
Não é da conta de ninguém.

E principalmente versos românticos impregnados de lirismo, reminiscências puras do romantismo do século passado que o Sertão nordestino conservou talvez como nenhuma outra região brasileira e que são geralmente dedicados pelas destaladeiras aos rapazes solteiros – bem amados:

Eu tranquei na mão um riso
De tua boca mimosa
Quando eu fui abrir a mão
Tava toda cor de rosa.

Existe ainda os versos que as destaladeiras empregam para chamar alguém, fazer interrupções, pedidos, insinuações, juntos aos proprietários como observamos nessa estrofe:

Feche a porta e abra a porta
Sem bulir na fechadura
Se eu fosse o dono do fumo
Oferecia rapadura.

Muitos usados também eram os chamados versos de maltratar que as destaladeiras cantam quando querem xingar alguém que não mais desejam:

Quem quisé comprá eu vendo
Um amor que já foi meu
Uma banda tá inteira
E a outra a barata roeu.

Como acontece com várias manifestações folclóricas, as destaladeiras também gostam de render homenagens, fazer louvações a lugares, a proprietários, algum visitante, em versos improvisados nos salões de fumo.

Oh, que estrela tão bonita
Do lado de Murici
Só comparo aquela estrela
Com uma pessoa d’aqui.

Nas cantigas das destaladeiras observamos os mais variados temas: do lírico ao sarcástico, do satírico ao irreverente, do espirituoso ao chamado verso de roedeira, que também é conhecido como paixão recolhida.

Quem me dera eu vê hoje
Quem tá em meu pensamento
Meu coração toma um susto
Meu corpo toma um alento.

Um fato curioso no entanto, nos chama a atenção nessa pesquisa: não conseguimos registrar um só verso contendo reclamações ou desprezo pelo trabalho, não há lamentações nas cantigas da colheita de fumo, daí concluímos que existe um grande contentamento no ambiente onde elas executam a tarefa.

O galo cantou, cantou moreninha
O dia manheceu, manheceu
Hoje aqui neste salão, moreninha
Quem canta mió é eu.

Os temas empregados no apogeu dessas cantigas, nas décadas de 1940 e 50, retratavam o meio ecológico da época: árvores, frutas,  flores, pássaros, açudes, que ainda não tinham sido devastados pelo homem , para dar lugar a cultura de fumo.

Catingueira ramaiúda
Descanso dos passarinhos
Quem me dera eu descansá
Nos teus braços um bucadinho.

… também convém ressaltar que muitas dessa cantigas de salão de fumo já foram publicadas, plagiadas e até gravadas com modificação da letra, da música e do ritmo. Mas, essas cantigas são anônimas, produtos da invenção do povo simples da roça.

E assim, as mulheres trabalham melhor durante horas à fio, na destalagem e seleção das folhas para formar o rolo, em salas, salões ou armazéns utilizados para a tarefa. Essas “cantigas de salão de fumo” como são conhecidas em Arapiraca, sempre constituíram uma grande atração na época da colheita, quando um imensa alegria tomava conta dos salões e ouvia-se a longa distância, a cantilena das destaladeiras. É pena que essas cantigas, autênticas manifestações, tão apreciadas pelo povo, não continuem com a mesma frequência do passado, vítimas que foram à evolução tecnológica implantada na região nos últimos anos da década de 1950, quando em Arapiraca se instalaram importantes firmas internacionais que passaram a explorar o comércio de folhas de fumo, proibindo as destaladeiras de cantar no trabalho de seleção das folhas, alegando que, além de fazerem barulho, diminuíam a produção diária dos armazéns. Hoje, elas trabalham caladas nos armazéns, sem conversar ou fazer qualquer ruído.

As cantigas tiveram seu período áureo nas décadas de 1940 e 1950; até o ano de 1959 as “destaladeiras” cantavam muito nos salões de fumo e se deleitavam, cantando versos de amor o dia inteiro, numa alegria contagiante e que atingia o seu ponto máximo no chamado derradeiro dia de fumo, quando era encerrada a destalação da safra e o patrão oferecia uma buchada de um carneiro gordo, bem como um Forró acompanhado ao som de harmônica e muita bebida para comemorar o encerramento da colheita. Foram dias memoráveis os derradeiros dias de fumos nos salões da Fazenda Seridó, Fazenda Ouro Preto, Fazenda Pernambucana. Eram verdadeiras festas, com os salões enfeitados e as destaladeiras bem inspiradas com o vinho, cantando versos de despedida:

Rapaziada adeus, adeus
Adeus, adeus que já me vou
Eu levo pena e saudade
Do moreno que ficou.

Adeus Cajueiro
Adeus Cajuí
Adeus que eu vou-me imbora
Para o ano eu volto aqui.

Despedida meu bem despedida
A nossa função se acabou
Vamos deixá para o ano
Se nós todos vivo for.

[ Fonte: http://www.jangadabrasil.com.br ]

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SESC Pompéia / SP

O Trabalho e o Canto das Mulheres de Arapiraca no Palco do SESC Pompéia
( 29 de Novembro de 2007 )

A Cia. Cabelo de Maria: Felipe Dias (violino), Lucilene Silva (voz e percussão), Renata Mattar (voz e sanfona) e Gustavo Finkler (violão e viola caipira). Com participação especial de Ceumar, as vozes e memórias das Destaladeiras de Fumo de Arapiraca viram CD e invadem o palco.

Pela segunda vez as Destaladeiras de Fumo de Arapiraca saem de Alagoas para mostrar ao público de São Paulo a força impressionante de suas vozes. O CD e o show [6 de dezembro, no Teatro do SESC Pompéia] são puxados pela cantora e pesquisadora Renata Mattar e sua Cia. Cabelo de Maria, e contam ainda com a participação da cantora Ceumar.

Além das mulheres de Arapiraca, as cantigas apresentadas vêm das descascadeiras de mandioca de Porto Real do Colégio/AL, das plantadeiras de arroz de Propriá/SE, da farinhada da comunidade de Barrocas/BA, da colheita de cacau de Xique-Xique/BA, da bata do feijão de Serrinha/BA e das fiandeiras de algodão do Vale do Jequitinhonha/MG. Os arranjos tendem ao acústico, percorrendo diversos estilos e ritmos regionais brasileiros. As vozes femininas são apoiadas por violão, viola caipira e violino. A percussão é feita com instrumentos convencionais e com os próprios objetos utilizados em cada região.

Renata Mattar pesquisa cantos de trabalho há mais de dez anos. Conduziu gravações, participou de rituais e festas tradicionais, aprendeu versos e cantigas. A musicista viajou por diversas localidades de diferentes regiões do Brasil buscando comunidades que ainda trabalhassem em mutirão e que utilizassem a música na lida. O CD Cantos de Trabalho surge a partir das canções registradas em campo por ela e sua parceira Lucilene Silva.

Destaladeiras de Fumo: Trabalho e Canto

“Destalar” é retirar o talo ou nervura principal das folhas de tabaco para seu aproveitamento industrial. E é precisamente isso que o canto faz com o calejado cotidiano dessas mulheres: desfia, peneira, alivia, como um mantra.

“O público sai do espetáculo cantando, pois facilmente as melodias ficam fixadas na memória. Assim, já temos visto por aí algumas crianças brincando de roda com essas cantigas e, quem sabe um dia, irão lembrá-las ao embalar seus filhos, assim como fez minha mãe”, diz Renata.

Durante o show e a partir de 6 de dezembro, o CD “Cantos de Trabalho” estará à venda nas lojas das unidades e na loja SESC virtual.

O quê: Show de lançamento do CD Cantos de Trabalho | Cia. Cabelo de Maria, com Ceumar e Destaladeiras de Fumo de Arapiraca
Quando: 6 de dezembro de 2007, quinta, às 21 hs
onde: SESC Pompéia | Rua Clélia, 93 | tel.: 3871-7700

[ Fonte: http://www.sescsp.org.br ]

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NOTÍCIA

Destaladeiras São Homenageadas no Memorial da Mulher
Por Departamento de Imprensa da Prefeitura de Arapiraca ( 29/10/2009 )

Com a presença de diversas autoridades e representantes dos diversos segmentos da sociedade arapiraquense, a direção do Memorial da Mulher realizou, na noite de terça-feira (27), a abertura da exposição “O Canto das Destaladeiras”.

A mostra é composta por equipamentos de salão de fumo e fotos que registram parte da história de vida da figura feminina nos salões de fumo, bem como a criação de uma expressão cultural tipicamente arapiraquense.

Durante a solenidade, que contou com a presença da Secretária de Governo, Rita Nunes, a Diretora do Memorial da Mulher, Kika Sousa, destacou a importância da manifestação artística para o desenvolvimento da cultura e da história nos 85 anos do Município de Arapiraca. Ainda durante o evento, o grupo das destaladeiras de fumo fez apresentação para o público presente ao Memorial da Mulher.

[ Fonte: http://www.arapiraca.al.gov.br ]

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Canto das Destaladeiras Escapa da Extinção – Por Davi Salsa ( Colaboração: Mônica Nunes )

 
“Pisa Morena no caroço da mamona
você toma o amor das outras
mas o meu você não toma
Se tomar eu vou buscar
Pisa morena no caroço do Juá…”A música ainda não é conhecida da indústria fonográfica – e tampouco toca nas rádios brasileiras – mas é, digamos, um hit entre os milhares de trabalhadores da agricultura de Alagoas e já vem sendo cantada em palcos de todo o País.Os versos fazem parte de um conjunto de mais de 50 canções – já catalogadas – e que irão fazer parte do CD a ser lançado pelo Grupo de Destaladeiras de Canafístula – movimento cultural genuíno de Arapiraca, formado oficialmente no ano passado.O álbum e um vídeo serão elaborados com recursos adquiridos por meio do Prêmio Culturas Populares, promovido pela Secretaria da Diversidade, do Ministério da Cultura, e que contemplou o Ponto de Cultura de Arapiraca “Cultura para o Desenvolvimento”.

O resultado desses trabalhos tem endereço certo e vai muito além dos fãs e admiradores que o grupo pretende conquistar: será entregue ao Memorial da Mulher Ceci Cunha. “ Será um presente que elas mesmas irão dar ao local, ampliando o acervo e deixando registrando um pouco da história dessas mulheres que fizeram o progresso da Cidade”, destacou a presidente da Associação de Moradores de Canafístula, Mariângela Lopes Barbosa, vista como um anjo-da-guarda entre as 20 destaladeiras-cantoras.

Mulheres como a senhora Angelina da Silva, 72, viúva, mãe de oito filhos. Aposentada, ela vivia, até então, em estado permanente de depressão. “Todos os dias eu arrumava minha mortalha. Agora, eu nasci de novo”, desabafou.

Quem Canta os Males Espanta

Hoje elas são, sem exceção, o retrato fiel da alegria e do entusiasmo. Duas vezes por semana ensaiam a coreografia e a voz. Na agenda, aulas de canto em escola de música patrocinada pela Prefeitura de Arapiraca. Tudo para aprimorar uma vocação natural nascida através do ofício de destalar e juntar as folhas de fumo.

A profissão, multiplicada na região, por conta da ascensão da cultura do fumo, era praticada em grandes salões que reuniam milhares de pessoas.
Numa jornada de trabalho que atravessava a madrugada, na época em que os rádios eram raros, era comum – e necessário – que surgisse algo que divertisse o grupo, mesclado por homens e mulheres.

Coube a elas, no entanto, a criação de uma espécie de brincadeira e que passou a ser levada a sério por quase quatro décadas. A partir de um mote nasciam os versinhos.

“ Podia ser a fome, uma namorico novo ou até uma briguinha”, explicou Ana Xavier, 62, destaladeira por mais de 50 anos e cantora do grupo desde sua fundação. O canto, cantado na forma de quadrilhas, sextilhas ou até pé quebrado ( quando a rima não é obrigatória ), ultrapassou anos, atravessou gerações, mas não resistiria aos novos ritmos da vida moderna.

A aplicação das leis trabalhistas, por exemplo. Afinal, já não é mais permitida a jornada de trabalho ampliada, a presença das crianças no trabalho e a chegada dos aparelhos eletrônicos trazendo músicas para os mais variados gostos musicais.

Mesmo resgatadas através do livro do historiador Zezito Guedes, denominado “As Cantigas das Destaladeiras”, as músicas estavam ameaçadas de extinção, pois não eram mais cantadas. Até que surgiu a primeira iniciativa de renascimento na Vila Fernandes, na zona rural de Arapiraca, e, mais recentemente, a do grupo de mulheres de Canafístula. Felizes da vida, literalmente, elas cantam. Fazem isso sem cerimônia e sobre qualquer pretexto. Ainda como no passado, improvisam ou repetem a ladainha dos tempos em que Arapiraca era conhecida como a “Capital Brasileira do Fumo”.

Tempo em que elas, anonimamente, construíram essa história de desenvolvimento e progresso. Hoje, vestidas em figurino apropriado e produzido por elas, as arrancam aplausos – como na apresentação de Juazeiro, no Ceará. Assim, mesmo com os dias contados para desaparecer dos salões de fumo, as cantadoras-destaladeiras trabalham pela preservação da “espécie”. Fazem isso através do Grupo de Canafístula e da formação de novos cantores formados pelo Projeto Mestres da Cultura Popular Ação Griô, do qual Dona Angelina faz parte.

Nas escolas da rede pública municipal ela dá aulas de Cultura Popular e, mais ainda, de como é possível ser e fazer feliz através da arte. “ Hoje quero viver para cantar muito mais “, garantiu.

NOTA: Esta é a 2ª parte da reportagem, vencedora de um prêmio nacional, produzida pelos Jornalistas Davi Salsa e Mônica Nunes. Leia a 1ª parte na postagem dedicada a Davi Salsa.

Fonte: AL Notícias – [ Fonte: http://www.queremosjustica.com.br ]

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[ Editado por Pedro Jorge / E-mail: pjorge-65@hotmail.com ]

3 Respostas para “Destaladeiras de Fumo de Arapiraca & Jababoys

  1. Muito legal, isso! Eu mesma já destalei muito fumo principalmemte em casa, pois, quando conhecíamos os donos do fumo, eles deixavam, muito bom! Era uma um dinheiro que ajudava muito. Mas passou o tempo e hoje é só uma lembranca boa. Abracos, Giselma Martins.

  2. Grupo de Arapiraca Fará Apresentação na TV Canção Nova
    Por Ascom Arapiraca

    O município de Arapiraca será, mais uma vez, atração em nível nacional, com apresentação do Grupo da Melhor Idade do bairro de Canafístula e as Destaladeiras de Fumo na cidade de Aparecida do Norte, em São Paulo.

    Eles irão se apresentar em programa da TV Canção Nova, mantida pela Igreja Católica e que possui repetidoras em todo o Brasil. A viagem do grupo conta com o apoio da administração da prefeita Célia Rocha (PTB).

    Por outro lado, os integrantes do Grupo da Melhor Idade do bairro da Canafístula está promovendo a Festa da Amizade, neste domingo (6), para arrecadar verba a fim de ajudar no custeio da viagem à cidade de Aparecida do Norte.

    O evento começa a partir das 19h30 e, terá apresentação de pastoril e realização de quermesse.

    [ Fonte: http://minutoarapiraca.com.br/noticia/11982/2013/10/03/grupo-de-arapiraca-fara-apresentacao-na-tv-cancao-nova ]

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