CORDEIS / Ronaldo Ol.

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CORDEL – 1 / “Dez, o Doido”
Autor: Ronaldo Oliveira*

Pelas ruas da Cidade / Vivia aquele doidinho
Mal vestido, sem família / Um sujeito piradinho
Mas a sua percepção / Deixa a impressão
Que fora um geniozinho.

Vivia a se perguntar / Por que na sua Cidade
Tinha tanta injustiça / Feita por autoridade
É um tal de empreguismo / E o corporativismo
Faltando a seriedade.

E o time da Cidade / Era outra indignação
Lutava pela vitória / Desde a sua fundação
Foi cabide eleitoreiro / Trabalhava o tempo inteiro
Sonhando ser campeão.

E assim ia o doidinho / Pelas ruas a andar
Observando as paisagens / Alegre a cantarolar
Viu bêbado com calibrina / Soldado pagar propina
Foi triste observar.

Um dia ele parou / Numa vitrine a olhar
E a TV colorida / Estava a noticiar
O massacre dos sem-terra / E a notícia se encerra
Dizendo ser do Pará.

E triste aquele doidinho / Foi ficando jururu
Pois a manchete seguinte / Vinda de Caruaru
Um instituto renal / Injustiça social
Matou gente pra chuchu.

Outro giro na Cidade / E o dez voltou a chorar
Viu menino cheirando cola / Pelas ruas a andar
Viu adultos agenciando / Os menores aliciando
Os ensinando a roubar.

De volta áquela vitrine / Foi de cortar coração
Dez, nosso doidinho / Assistiu na televisão
Uma clínica para idosos / Matou velhos calorosos
Por falta de compaixão.

Uma outra reportagem / Lhe deixou apavorado
Trancafiavam os loucos / Em celas com cadeado
E de ver tanta desgraça / Triste e meio sem graça
Dez não dormiu sossegado.

Debaixo duma marquise / Logo cedo acordou
E as barracas na feira / Na rua ele encontrou
Numa torda pediu comida / Uma mulher deu guarida
E assim continuou.

De olho arregalado / Numa Igreja ele entrou
E um povo bem vestido / Na hora lhe observou
E logo uma beata / Junto dele arremata
E pra fora lhe mandou.

Dez saiu revoltado / Com aquele tratamento
Resolveu denunciar / E até fez juramento
As injustiças sociais / Traçou os seus ideais
Para o nosso julgamento.

A desgraça de um shopping / Que muita gente matou
A execução dos sem-terra / Culpado não encontrou
As mortes de Caruaru / Dos velhinhos lá do Sul
Nunca ninguém condenou.

Os atrasos dos salários / Do médico, do professor,
Na Cidade, no Estado / Mais parece um terror
Até o judiciário / Pela falta de salário
O seu trabalho cessou.

Tudo isso acontecendo / E o doidinho a pensar
E o povo corrompido / Nada pode enxergar
Troca voto por favor / Transformando num horror
O nosso belo lugar.

É assim que pensa o “Dez” / Com sua perseverança
Ser realista é loucura / É agir como criança /
É sentir satisfação / É transformar a nação
Renascer a esperança.

[ Fonte: livro “ACALA: História e Vida“, abril de 2009 ]

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CORDEL – 2 / “O Embrião-Falante”
Autores: Ronaldo Oliveira* e Célia Rocha

Bem no útero da mamãe / O bebê foi se gerar
E eu que era repórter / Fui logo entrevistar
Fui perguntar ao nenem / O que fazia por lá.

O nenem quase invisível / Alegre e com emoção
Me disse que precisava / Fazer reinvidicação
E pediu que eu anotasse / Toda a sua opinião.

Eu sou um gen fecundado / Preciso de muito amor
Minha mãe tem que saber / Das coisas que dou valor
Preciso do seu cuidado / E também do seu amor.

Minha querida mamãe / Peço-lhe com simpatia
Vá ao posto de saúde / Todo mês, ao menos um dia
Faça todo o pré-natal / Com prazer e alegria.

A saúde da mamãe / Deve ser bem preservada
Durante a gravidez / Ela deve ser bem cuidada
Pois num deslize qualquer / Minha vida é arruinada.

Disto faço uma bandeira / Falo com opinião
Peço pelo amor de Deus / Do fundo do coração
Que cuide bem da mamãe / Durante a gestação.

E neta minha entrevista / Falo com empolgação
Peço para a mamãezinha / Ter boa alimentação
Para evitar anemia / E me dar sustentação.

Peço também a mamãe / Que desista de fumar
Pois me deixa embriagado / E quase sem respirar
O meu peito diminui / Isso só me faz chorar.

E quando a mamãe bebe / Me deixa todo loucão
Eu fico com mal estar / Quase sem consolação
Mata minha inteligência / Afeta a minha imaginação.

Seu repórter, por favor / Uma coisa vou falar
Um conselho pra mamãe / Para não se preocupar
Pois ouço ela falando / Que vive a enjoar.

O enjoo e muito sono / É natural na gravidez
É uma coisa comum / E acontece mais de uma vez
Por isto não se preocupem / Eu aviso a vocês.

Eu como pequeno embrião / Também quero prevenir
Quando eu crescer um pouco / Vai aumentar seu xixi
E do peso da arriga / Já quero lhe advertir.

Atenção minha mamãe / Quero alerta especial
No meu quarto mês de vida / Durante o pré-natal
Olhe se estou mexendo / Se estou bem ou se estou mal.

Também lembro a você / Mamãe do meu coração
Que no quarto mês de grávida / Coloque em anotação
É hora da vacina / Que nos dá a prevenção.

A mamãe no quarto mês / Deve ter na agendinha
Anotando com destaque / Pra tomar a vacininha
Contra o étano neo-natal / Que mata a criancinha.

Mamãezinha minha vida / Só depende de você
Viva com muita alegria / Para eu poder crescer
Crescer cheio de saúde / Pra poder amar você.

Encerrando a entrevista / A minha reinvidicação
Vai direto pro papai / E quero a compreensão
Mesmo estando na barriga / Quero sentir sua mão.

Quero ouvir a sua voz / Seu carinho seu amor
Quero sentir sua firmeza / Coragem e seu calor
Quero toda a atenção / E não quero ouvir rancor.

E aqui neste escurinho / Onde o útero é meu leito
Quero pedir a mamãe / E acho que vai ter jeito
No dia que eu nascer / Já quero mamar no peito.

Pra finalizar meu papo / E toda conversação
Eu quero me apresentar / Como pequeno embrião
Sou Ronaldo Oliveira / Só quero sua atenção.

[ Fonte: livro “Retratando a Minha Terra” ]

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CORDEL – 3 / “Não Gostas de Nordestino?”*
Autor: Ronaldo Oliveira*

Assisti no seu programa / E pude me preocupar
Maltrataste o Nordeste / Com seu verbo de lascar
Criticar sarapatel / É mexer com coronel
Acho bom tu ponderar.

Dizer que carne de bode / É comida que engorda
Com certeza é um trauma / Por isto ô gordo, acorda
Pois é uma carne nobre / Para rico e para pobre
Junto com feijão de corda.

Ainda faço um convite / A você da produção
Para vir a Arapiraca / A uma confraternização
A festa vai ser danada / E uma grande buchada
Servirá de atração.

Carne de bode assada / Com um bom sarapatel
Uma gostosa aguardente / Para gente de anel
E pra nossa sobremesa / Você pode ter certeza
Doce de coco com mel.

[ Fonte: (extinto) “Jornal ‘Novo Nordeste‘” ]

* Este cordel, Não Gostas de nordestino?, de autoria de Ronaldo Oliveira foi lido na abertura do programa Jô na Copa, em 27 de Junho de 1994. ”Não Gostas de Nordestino?” foi um trabalho que ele produziu rebatendo as críticas que o Jô fez a algumas comidas típicas nordestinas, principalmente quando os presidenciáveis vinham ao Nordeste e saboreavam as mesmas.

[ Fonte: site Zóio TV / http://www.zoiotv.com.br ]

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Cordel – 4 / “Jô Soares Onze e Meia”
Autor: Ronaldo Oliveira*

Quando cheguei a Cumbica / O primeiro mundo avistei
Portas sensorizadas / Por todo canto encontrei
Escadas rolantes, elevador / Controlados por computador
Como nunca imaginei.

No balcão da locadora / De longe pude avistar
O motorista do SBT / Que veio me encontrar
E com muita educação / Naquela ocasião
Ao estúdio foi me levar.

Ao chegar ao Sumaré / Feita a identificação
Entrei para o teatro / Com tão grande emoção
Jô Soares entrevistando / Ao lado fui avistando
Veja que satisfação.

Simone me recebeu / Com tão grande alegria
Me levou ao camarim / Esbanjando simpatia
Era o meu dia de glória / Que ficará na história
A emoção, a magia.

E naquele camarim / Muita coisa aconteceu
Um ambiente perfeito / Muita alegria me deu
E este velho matuto / Dando uma de astuto
De susto quase morreu.

Ao abrir a gaveta / Só querendo curiar
A dita caiu no chão / Só pra me amedrontar
Foi coisa pra todo lado / Eu fiquei apavorado
Ligeiro pra arrumar.

Depois um sujeito estranho / Com o quadril rebolando
Preparou a maquiagem / Foi logo me penteando
Simone minha defensora / Com uma fala encantadora
Pra plateia foi me levando.

Assisti a várias entrevistas / E fiz questão de rimar
E quando o Jô me chamou / Não pude acreditar
Um momento esplendoroso / Na hora fiquei famoso
Posso até me recordar.

Quinze minutos de glória / Para nunca esquecer
Ao lado de Jô Soares / Eu palestrei a valer
Falei da minha Cidade / Do fumo à festividade
Eu fiz questão de dizer.

[ Fonte: livro “O Caipira e o Onze e Meia” ]

* Ronaldo Oliveira é radialista, administrador de empresas, escritor e membro da ACALA (Academia Arapiraquense de Letras e Artes).

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SALMO DA CIDADANIA
Por Geraldo José Campos (secretário de Educação do estado do Ceará)

Há um abismo entre os homens / Há um abismo de pão.
Há poucos muito que comem, / Há muitos que quase não.

Bendita seja a Ciência / Que se faz sabedoria
E desperta a consciência / Do que é cidadania.

Demos graças, demos glória / A quem nos dá a ventura
De construir a história, / Com audácia e com ternura…

Distribuindo a justiça, / Contestando os poderosos,
Desmascarando a cobiça / Com seus lucros fabulosos.

Ai! Do poder que não pode / Com seu povo conviver,
pois nem ao menos acode / Quem não pediu pra nascer.

Mas depois será chamado / A morrer por seu país
Onde até lhe é negado / Um chão pra morar feliz…

Não vale medir em léguas / As terras sem produzir…
O coração não dá tréguas / A quem não quer repartir!

Não se compra coerência, / Não se vende integridade
Ninguém detém violência / Semeando atrocidade…

Confundir autoridade / Com o direito de impor
A sua própria verdade / É um poder sem pudor.

Num gesto de covardia, / Pilatos lavou as mãos
Mas Cristo nos desafia, / Lavando os pés dos irmãos.

Por que não existe mais / o prazer de dar as mãos?
Não sabemos ser iguais… / Não seremos cidadãos!

A liberdade é um Dom. / Ninguém esqueça jamais
E… como seria bom / Se a terra acordasse em paz!

[ Editado por Pedro Jorge ]

3 Respostas para “CORDEIS / Ronaldo Ol.

  1. Sua literatura popular continua brilhante, saudades do amigo querido! Abraços! Marta Maria de Melo

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